UDV-Ciência: A Comissão Científica do CEBUDV

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Mestre Joaze Bernardino-Costa durante participação na III Conferência Internacional da Ayahuasca em Girona, na Escpanha, em 2019. Crédito: Jocimar Nastari.

 

O compromisso e o vínculo da União do Vegetal com a Ciência encontram-se nos ensinos espirituais trazidos pelo Mestre Gabriel, acessíveis a todos que, pelo merecimento, podem participar de uma sessão. Uma pequena fração desta Ciência tem se materializado através dos trabalhos de pesquisadores, que investigam os benefícios da União do Vegetal. Para este diálogo com pesquisadores – não-sócios e sócios da UDV – foi criada, em 2004, a Comissão Científica, que ficou sob a coordenação do M. Luiz Fernando Milanez até 6 de janeiro de 2018. A história do estímulo à pesquisa no Centro, porém, remonta aos tempos do Mestre em matéria.

 

A bússola do Mestre

 

Na ocasião em que o chefe de polícia do Território Federal de Rondônia determinou o fechamento da União do Vegetal, e o Mestre Monteiro impetrou um mandato de segurança para garantir o direito de culto da UDV, Mestre Gabriel designou uma missão ao então Conselheiro Adamir: levar uma garrafa de Vegetal para São Paulo, para fazer um exame toxicológico. (O périplo desta jornada do C. Adamir está narrada no livro de Patrick Walsh, O exemplo na Vida de Quem Prega, que será publicado nos próximos meses.) O C. Adamir não obteve sucesso no Instituto Adolf Lutz, em São Paulo. Dirigiu-se, então, ao Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Chegando lá, obteve como informação que não existiam estudos a respeito das duas plantas que constituem o Vegetal, mas ficou sabendo da existência de um estudo feito na Suíça que informava que naquelas plantas havia uma substância chamada Harmina, que produz a sensação de paz, harmonia e felicidade para a pessoa.

 

Vemos neste extraordinário acontecimento envolvendo M. Monteiro e o M. Adamir a supervisão do Mestre, que nos aponta o caminho, e que pode nos inspirar. Foi que em 1977, em resposta a um médico que dizia que o Vegetal era entorpecente, o Centro, por meio do M. Edson Saraiva, se pronunciou no Jornal O Guaporé conclamando o meio científico a desenvolver uma pesquisa multidisciplinar, cuidadosa e minuciosa, a respeito das potencialidades do Vegetal, em prol de um maior conhecimento dos seus poderes sobre a mente humana. O pronunciamento não restringia os estudos aos aspectos químicos e psíquicos, mas também encorajava a realização de pesquisas clínicas e sociológicas. (cf. https://udv.org.br/blog/ha-40-anos-udv-abriu-as-portas-para-comunidade-cientifica/)

 

Uma nova abertura para pesquisas ocorreria em meados da década de 1980. Na época, o Mariri foi incluído na lista de substâncias proscritas por decisão arbitrária e equivocada da Dimed, a Divisão Nacional de Vigilância Sanitária de Medicamentos do Ministério da Saúde. Na ocasião, a União do Vegetal, por meio do M. Felipe Belmonte, solicitou ao Confen – Conselho Federal de Entorpecentes – que promovesse uma pesquisa multidisciplinar que abrangesse os aspectos sociológicos, químicos, farmacológicos, antropológicos, culturais e jurídico-constitucionais da União do Vegetal e de outras religiões hoasqueiras, que estavam sob a atenção do poder federal (Conferir os detalhes desta história no artigo “A Liberação do Chá Hoasca junto ao Confen”, de autoria de Luís Felipe Belmonte dos Santos no livro Hoasca: ciência, sociedade e meio ambiente).

 

A vocação para pesquisa seria reafirmada na década de 1990, nos dois congressos nacionais do Centro de Estudos Médico realizados, respectivamente, em São Paulo e Campinas, em 1991 e em 1993; e, depois, no 1º Congresso Internacional da Hoasca no Rio de Janeiro, em 1995. Naquela ocasião, foram apresentados os resultados da pioneira pesquisa Farmacologia Humana da Hoasca, e lançada a ideia da Pesquisa com Adolescentes, que se concretizaria nos anos 2000.

 

Este rápido resumo de uma longa história de dedicação e vitórias mostra como a boa informação, embasada em estudos sérios, tem sido importante nos processos legais para garantir o direito de culto da União do Vegetal e outras sociedades religiosas hoasqueiras, bem como mostra como o Centro tem contribuído para ampliação da compreensão das autoridades públicas e da sociedade em geral.

 

A criação da comissão científica

Com expansão da UDV e outras religiões hoasqueiras aos grandes centros urbanos e a divulgação das pesquisas científicas a respeito do Vegetal, crescentemente o Centro passou a receber pedidos de autorização para realização de pesquisas por parte de pesquisadores nacionais e internacionais.

 

Inicialmente, as solicitações de autorização eram mais por pesquisas nas áreas médica e farmacológica, o que era absorvido pelo DEMEC. Com o passar do tempo, começaram a surgir pedidos de autorização de pesquisa na área das ciências humanas. Então, em 2004, após pedido formal da C. Lúcia Gentil encaminhado à Diretoria Geral, foi constituída a Comissão Científica, um órgão de assessoramento da DG, com o objetivo de avaliação das propostas de pesquisa e acompanhamento de trabalhos realizados por pesquisadores e pesquisadoras de instituições de ensino e pesquisa. Também naquela ocasião, o M. Luiz Fernando Milanez foi designado como coordenador da mesma. Desde então, a Comissão Científica tem acompanhado mais de 50 projetos de estudos, que resultaram em teses, dissertações e artigos produzidas por não-sócios e sócios. O escopo do acompanhamento da Comissão Científica envolve desde estudos a respeito do Vegetal e seus benefícios à saúde humana, passando pela forma de organização da sociedade religiosa, até as plantas que são utilizadas para a preparação do Vegetal.

 

Por esta razão, hoje, a UDV Ciência, em diálogo com o DEMEC e o DPMA, passou a concentrar os pedidos de pesquisa que envolvem três áreas de investigação: Saúde, Sociedade, Plantio e Meio Ambiente.

 

A reestruturação da comissão científica

No triênio de 2015-2017, que teve o M. Clovis Cavalieri como Mestre Geral Represente, e o M. Wladimir como Presidente da DG, ganhou mais concretude uma idéia, que já vinha de períodos anteriores, de que o Centro não se limitasse a uma postura passiva no diálogo com a comunidade de pesquisadores externos, apenas aguardando que eles nos trouxessem suas propostas de estudo. Deveríamos também passar a propor pesquisas do nosso interesse, bem como estimular nossos jovens com vocação para esta área que desenvolvam estudos que possam ser importantes para o Centro. Aquelas conversas se materializaram no triênio seguinte, quando o M. Paulo Afonso ocupou a Representação Geral e o M. Tadeo Feijão atuou como Presidente da DG. Nesta época, durante o Congresso Internacional da Ayahuasca, que ocorreu na cidade de Girona, na Espanha, em 2019, lançamos o site da UDV Ciência (www.ciencia.udv.org). Este site, que está sempre sendo atualizado, visa a ser uma interface pública do Centro com a comunidade de pesquisa mundial, disponibilizando temas de interesse de pesquisa do centro, teses, dissertações e artigos.

 

Na ocasião do lançamento do site – em decisão aprovada pelo Comitê Gestor da DG – também fizemos uma reestruturação da Comissão Científica, criando três subcoordenações: Saúde, Sociedade e Plantio e Meio Ambiente. Atualmente temos as seguintes pessoas nestas frentes:

 

Saúde: C. Ilka Boin (N. Alto das Cordilheiras);

Sociedade: C. Patrick Wash (N. Fortaleza)

Plantio e Meio Ambiente: Julien Thevenin (N. Menino Deus).

 

Esta equipe, além de concretizar de forma mais direta o diálogo como o DEMEC e DPMA, tem auxiliado os trabalhos da UDV Ciência na interlocução com os pesquisadores. Também integra a equipe o jornalista e irmão Pablo Nogueira (N. Menino Galante), responsável por dinamizar por meio deste blog o diálogo com o público interno e externo.

 

Ressalto a importância de nós, caianinhos, principalmente aqueles da Direção, termos conhecimento deste site. Entre outras importantes informações, ele traz orientações a respeito dos procedimentos para apresentação de projetos de pesquisa ao Centro.

 

Convidamos a todos a conhecerem e divulgarem o site. Gradativamente, estamos subindo trabalhos científicos – especialmente artigos publicados em revistas especializadas – na nossa biblioteca virtual, de modo a oferecer a pesquisadores e pesquisadoras uma bibliografia atualizada das mais importantes e relevantes pesquisas que procuram apresentar evidências, numa linguagem acadêmica e científica, dos benefícios do Vegetal, que temos sentido, ao longo dos anos, ao vislumbramos os encantos espirituais da Hoasca.

 

Joaze Bernardino-Costa

N. Príncipe Teceu

Coordenador da UDV Ciência: Comissão Científica do CEBUDV

5 Comentários em “UDV-Ciência: A Comissão Científica do CEBUDV”

  1. Excelente essa iniciativa do Centro de divulgar cientificamente os benefícios que a União das plantas Chacrona e Mariri trazem para a vida das pessoas que fazem uso ritualistico para o seu desenvolvimento espiritual, moral e intelectual.
    Parabéns aos organizadores.

  2. Considero excelente o Centro divulgar cientificamente os benefícios que a União das plantas Chacrona e Mariri trazem para a vida das pessoas que fazem uso ritualistico para o seu desenvolvimento espiritual, moral e intelectual.
    Parabéns aos organizadores.

  3. Que maravilha esse espaço de conhecimento cientifico, uma riqueza para obter conhecimentos científicos sobre o uso do chá.
    Gratidão a todos empenhados nessa missão…

  4. Confirmando as palavras do nosso Mestre …, o chá …comprovadamente inofensivo à saúde. E os estoicos caianinhos que, desde o início, com supervisão , vêem fazendo acontecer , realizando benefício pra humanidade!

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