UDV Participa de pesquisa pioneira sobre sequenciamento genético do Mariri e da Chacrona

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Nos dias 24, 25 e 26 de setembro, o núcleo Menino Galante, localizado na Serra da Cantareira, no município de Mairiporã, no estado de São Paulo, abriu as portas de seu plantio de Mariri e Chacrona para receber a visita de sete pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Universidade Estadual da Paraíba, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e da Universidade Federal de Roraima. A visita dos pesquisadores é parte de um estudo que pretende, pela primeira vez, fazer o sequenciamento completo  do DNA do Mariri e da Chacrona.

O projeto de pesquisa com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro  (FAPERJ) é denominado “Unindo genômica, conhecimento tradicional botânica e neurociência através o sequenciamento do genoma parcial dos dois principais componentes do chá Ayahuasca, Banisteriopsis caapi e da Psychotria viridis” (que são os nomes científicos respectivamente do Mariri e da Chacrona). Os sócios da UDV ofereceram apoio logístico, prepararam a hospedagem, a alimentação e auxiliaram os pesquisadores na coleta das amostras.

Parte da equipe de pesquisadores durante a visita para coleta de amostras no núcleo Menino Galante.

Um dos coordenadores do trabalho é o professor Francisco Prosdocimi, da UFRJ, que é biólogo especialista em bioinformática e genética. Ele explica que o sequenciamento do DNA do Mariri e da Chacrona vai permitir conhecer mais o funcionamento biofisiológico das plantas e seus potenciais terapêuticos.

“Há proteínas e enzimas que metabolizam os nutrientes das plantas obtidos através da terra e da luz solar e que vão auxiliar na produção de compostos químicos como a DMT [Dimetiltriptamina], princípio ativo da Chacrona, e alcaloides como a Harmina e a Harmalina, do Mariri. Com o sequenciamento genético, temos condições de conhecer quais genes codificam esses compostos”, diz ele.

A ação da DMT, na verdade, depende também da atuação dos alcaloides que estão presentes do Mariri. Esses alcaloides impedem que outra substância, a monoaminoxiadase (MAO), decomponha a DMT e permite que a ela chegue ao cérebro onde atua. Mas a produção desses compostos pela Chacrona e pelo Mariri ainda é pouco conhecida pela ciência, segundo o professor da UFRJ: “Não sabemos quais genes codificam proteínas para produzir a DMT na Chacrona, nem como isso acontece com o Mariri”.

O professor da UFRR, José Beethoven Figueiredo Barbosa, um dos integrantes da pesquisa, complementa que ainda não há estudos que tenham proposto realizar esse sequenciamento genético da Chacrona. No caso do Mariri houve um estudo, porém inconclusivo: “Essas informações serão importantes para entender melhor o comportamento das plantas”.

Dada a relevância da pesquisa, Barbosa, que é sócio da UDV e já foi vice-diretor de pesquisas científicas do Departamento de Plantio e Meio Ambiente (DPMA/UDV), diz que, juntamente com esse grupo de pesquisadores, a UDV passa a ser protagonista no sequenciamento do DNA do Mariri e da Chacrona.

“A UDV vem trabalhando para se aproximar mais das atividades científicas que estão relacionadas ao Mariri e à Chacrona. Ao longo de anos, a religião vem zelando por essas plantas, estudando-as e capitaneando o trabalho junto à comunidade científica para conhecimento do chá Hoasca, produzido a partir da decocção delas”, de acordo com o professor da UFRR.

Simone Lopes, uma das coordenadoras da pesquisa e sócia da UDV

Conhecer o sequenciamento genético do Mariri e da Chacrona pode contribuir com a sustentabilidade das plantas e de regiões onde elas são plantadas como a Floresta Amazônica. É o que explica Maria Alice Corrêa, responsável técnica do Banco de Matrizes de Ouro Preto do Oeste, do DPMA/UDV em Rondônia, e integrante da pesquisa: “O conjunto dos estudos nos dá condição de cultivar as plantas de uma maneira mais adequada a cada ambiente e ter uma melhor compreensão a respeito da conservação das espécies ligada à sustentabilidade”.

A coleta das amostras do Mariri e da Chacrona na Serra da Cantareira é a segunda etapa da pesquisa. Da primeira etapa, iniciada em 2017, não puderam ser extraídos, no Brasil, o DNA das primeiras amostras. Agora parte do novo material será catalogado pela Unesp, em Jaboticabal (SP), e parte será enviado para a Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, onde uma empresa será paga para extrair os genes. Uma primeira experiência de extração já ocorreu. Porém, o DNA que se conseguiu extrair não tinha a alta qualidade necessária para que se pudesse conduzir os estudos. Daí a decisão de enviar o material coletado para os EUA.  “Eles têm maior know-how para fazer a extração dos DNAs”, complementa Prosdocimi.

Simone Silva dos Santos Lopes, também coordenadora da pesquisa e professora da UEPB, informa que o local foi escolhido devido as plantas coletadas terem vindo da região Norte para o Sudeste, nos anos 1980 e 1990, por serem catalogadas pelo DPMA regional e pela facilidade no transporte do material em nitrogênio líquido para os Estados Unidos, já que a Serra da Cantareira está próxima à capital paulista.

Após a extração, serão realizados pelos pesquisadores brasileiros o sequenciamento genético e a produção de compostos químicos pelo Mariri e pela Chacrona será comparada com outras plantas. Além disso, será possível o mapeamento por regiões, afirma Simone Lopes, que também é sócia da UDV: “Assim, a gente pode, por exemplo, identificar os Mariris de determinada região, a variabilidade genética deles e quais possibilitam uma boa burracheira”.

Prosdocimi esclarece que a pesquisa não pretende utilizar os resultados para criar transgênicos ou fazer medicamentos. Mesmo assim, realizar o sequenciamento genético pode auxiliar a diminuir o preconceito com os usos religiosos do chá Hoasca. “Queremos honrar essas plantas e mostrar que elas são realmente poderosas”, conclui ele.

 

Vinícius Lima é membro do Corpo Instrutivo do núcleo São João Batista em Mairiporã-SP

Pablo Gonçalves é membro do Corpo Instrutivo do núcleo Menino Galante em Mairiporã-SP

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